segunda-feira, 16 de junho de 2014

[Resenha] Os Três - Sarah Lotz

Título: Os Três.
Título original: The Three.
Autora: Sarah Lotz.
Editora: Arqueiro.
Nº de páginas: 400.

Sinopse: Quinta-Feira Negra. O dia que nunca será esquecido. O dia em que quatro aviões caem, quase no mesmo instante, em quatro pontos diferentes do mundo. Há apenas quatro sobreviventes. Três são crianças. Elas emergem dos destroços, aparentemente ilesas, mas sofreram uma transformação. A quarta pessoa é Pamela May Donald, que só vive tempo suficiente para deixar um alerta em seu celular: Eles estão aqui. O menino. O menino, vigiem o menino, vigiem as pessoas mortas, ah, meu Deus, elas são tantas... Estão vindo me pegar agora. Vamos todos embora logo. Todos nós. Pastor Len, avise a eles que o menino, não é para ele... Essa mensagem irá mudar completamente o mundo.



Nota Pessoal:

Os Três é um livro genial. Desde sua proposta principal até os pormenores aparentemente dispensáveis, o romance de Sarah Lotz é mesmo complexo, instigante e até um pouco arriscado.  Complexo porque a autora se propôs a escrever nas mais diferentes escalas, sem medo de empregar variados recursos: transcrição de gravações; entrevistas; narrações em primeira pessoa; conversas de bate-papo; etc. Instigante porque é tão envolvente e ‘fluído’ que o leitor chega à última página quase sem perceber. E arriscado - e aqui cito os mesmo motivos da complexidade – porque temos a visão de vários personagens: do aparentemente ‘mais importante’ até o aparentemente irrelevante; claro que temos a visão de um mesmo personagem diferentes vezes, mas o que quero dizer é que independente do número de visões oferecidas, a história não me pareceu confusa ou perdida.

É. Este é aquele livro que você não terá mocinhos ou vilões e tudo é absolutamente digno de desconfiança. É uma história que revela a natureza humana e como cada um é capaz de enxergar um determinado fato ou pessoa de diferentes maneiras. Acho que é à característica mais visível e determinante da trama: mostrar que as aparências podem enganar e que ninguém é inteiramente bom ou ruim; mostrar que a situação e a pressão levam pessoas a fazerem coisas absurdas sem ao menos perceber.

Outro fato curioso é que é ‘um livro dentro do livro’.

Calma, eu explico. Da Queda à Conspiração é o livro escrito por uma autora-personagem chamada Elspeth. É o livro que revela os mistérios que envolvem a Quinta-Feira Negra, o dia em que aconteceram os mais terríveis acidentes aéreos e resultou na sobrevivência de apenas três crianças; três crianças que se tornaram alvo das mais assombrosas conspirações. É dessa premissa que nós, leitores, somos apresentados ao manuscrito original da obra. Na verdade Os Três é na íntegra o livro da Elspeth.

Neste livro somos apresentados aos fatos misteriosos que rondam o acidente. A mensagem deixada por Pamela para o pastor Len; a transformação pela qual os três sobreviventes passaram; a possível sobrevivência de uma quarta criança; enfim, Elspeth destrincha e vai atrás das pessoas envolvidas direta ou indiretamente no caso.

Bobby. Jess. Hiro. Estes são os três sobreviventes. Estas são as três crianças que fazem tudo acontecer. O foco de todos os jornais sensacionalistas; o aperitivo para a ascensão da alienação religiosa; o terror para as famílias que têm de lidar com tudo isso e ainda com seus próprios dramas pessoais.

Não poderia deixar de dizer o quão assombroso e realista é a obra. A autora dosou demasiadamente bem o ‘sobrenatural’ e o mesclou com realidades que por vezes me deixava com a pulga atrás da orelha e me fazia abrir a página do google pra ver se ‘aquilo não tinha mesmo acontecido’. Pois é, querido leitor, se tem uma recomendação que eu poderia dar a você que pretende ler Os Três é essa: ao ler, saiba que tudo, absolutamente tudo, é ficção; foi tudo pensado e arquitetado pela Sarah Lotz. É; nem adiante ‘fuçar’ na internet que a Quinta-Feira Negra é tudo obra da cabecinha dessa autora magistral.

Sobre as diferentes perspectivas e formas narrativas é preciso ressaltar o quão precisa e cuidadosa a autora foi. Apesar de muitos afirmarem que ‘dar voz’ a vários personagens torna a leitura confusa, posso garantir que isso não acontece com este livro. Pelo menos este leitor que vos escreve não ficou nem um pouquinho perdido em meio às descrições quase que minuciosas e muito menos teve problema com a variedade de perspectivas. Ouso dizer que foi justamente isso que me fez classifica-lo com cinco estrelas.

É interessantíssimo como à mescla das visões junto com as variáveis formas de narração se encaixam perfeitamente bem. Temos narrações em primeira pessoa: relatos; transcrições de áudios; matérias publicadas em jornais; entrevistas; conversas via Skype; reproduções de conversas em salas de bate-papo; ou seja, Sarah Lotz conseguiu no ‘livro dentro do livro’ fazer sua autora-personagem Elspeth reunir o mais número de informações sobre Os Três fazendo seus leitores formarem sua própria opinião sobre o caso.
São abordados temas ousados, principalmente referentes à religião. Não pude deixar de por vezes, achar características do tão aclamado ‘O Código da Vinci’ – Dan Brown – na obra da Sarah. São ínfimas, porém é inegável que a alienação e os mistérios que rondam a religião – mais especificamente o cristianismo – são abordados em ambas (de uma maneira bem mais moderada pela Sarah, é verdade).

Ao fim do livro temos então o tão aguardado clímax. Tão aguardado e tão subliminar. Agora não mais diretamente sobre o caso d’Os Três, mas sobre como Da Queda à Conspiração foi recebido pelo público e como a Elspeth passou a viver depois da publicação do livro. E o que dizer dele...?! Do final. Posso dizer que é um final um tanto ‘obscuro’. Um final que vai te fazer pensar. É isso. Quando fechei o livro, concluí que mesmo que a explicação dada possa parecer vaga, não fique nem um pouco frustrado e acho até que foi pensada para deixar no leitor essa sensação de desconfiança – é, um final digno para um thriller tão assombrosamente real.

Os Três é acima de tudo um thriller psicológico muito bem estruturado e certamente agradará os leitores ávidos do gênero. É inteligentemente complexo e até um pouco psicologicamente perturbador. O livro é mesmo uma obra-prima resultante da mistura do horror e da obscuridade do suspense. É incrível!


Boa Leitura!

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Um comentário:

  1. Oi Ronaldo :)

    Cara... estou dividido. Já li cerca de 6 resenhas desse livro e a metade foi negativa, as outras igual a sua, creio que terei que ler para tirar a prova. Abraços!

    http://euvivolendo.blogspot.com.br/

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