quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

[Resenhando Nacional] Deixe a Inglaterra Tremer - Sávio Lopes

Título: Deixe a Inglaterra tremer.
Autor: Sávio Lopes.
Editora: Novo Século.
Nº de páginas: 216.
Sinopse: Embalado pelo ritmo frenético das letras das canções de rock alternativo que antecipam cada passagem do livro, “Deixe a Inglaterra Tremer” é o retrato de como Londres se tornou um polo multicultural nos últimos anos. Nosso narrador constrói e desconstrói diversos estereótipos culturais ao longo dos quatro meses em que esteve lá. Demonstra o processo de adaptação do jovem amargo que era quando chegou à cidade, nos levando à experiência do amadurecimento pessoal que somente a vida numa cidade repleta de possibilidades pode proporcionar. O contato com estrangeiros de todas as partes do mundo, o intercâmbio cultural – nem sempre amigável e bem-sucedido –, as amizades nascidas do sentimento em comum de se estar “sozinho no meio da multidão”, as reflexões acerca da própria vida diante de realidades tão diferentes à primeira vista. Tudo isso transforma o livro numa explosão quase tão multifacetada quanto a própria vida na antiga Londres do novo século.

 Nota Pessoal:

O que a capital londrina pode oferecer?! O quanto podemos amadurecer num período tão curto de tempo numa cidade que abriga pessoas das mais diversas nacionalidades?! Num relato autobiográfico, Sávio Lopes nos conta como é viver longe de tudo aquilo que nos é conhecido e confortável em troca de uma experiência única de experimentar uma vida regrada pelo desejo insaciável do amadurecimento pessoal.

A narrativa pessoal nos leva até uma Inglaterra berço de culturas diversificadas, capaz de unir os quatro cantos do mundo (ou o mundo é redondo?!) num liquidificador gigantesco e produtor de muita coisa legal. O nosso autor personagem é levado até lá para fazer um curso de inglês e talvez encontrar um trabalho bacana, mas o que acaba descobrindo é que muito mais que um destino desconhecido, Londres pode mostrar-se um verdadeiro lar, que proporcionaria muito mais que momentos incríveis, festas regadas a generosas doses de aprendizado (e bebidas fortes), e amizades verdadeiras.
“Finalmente entendi o sentido de Here Comes the Sun. Se eu visse o sol aparecendo naqueles dias, eu também comporia uma música sobre isso (...) ‘É como se o inverno na Inglaterra durasse para sempre, quando a primavera chega você realmente a merece’.” Pág.: 63
O ‘garoto’ introvertido é logo recepcionado pela dona da casa que lhe fora designada, Sandra, uma excelente fazedora de chás, além de uma ótima companhia; e por outro garoto que também estava ali para estudar. A princípio, Sávio Lopes só quer ser um carinha legal, perdido nos próprios devaneios nutridos principalmente pela saudade de casa. O que não acontece é claro, quando ele se dá conta do quanto à Inglaterra pode ser interessante se explorada... E com as pessoas certas.

Só que nem tudo são flores, se é o que você está pensando. A Inglaterra afinal, também e como em qualquer outro lugar, abriga uma galera chata e insuportavelmente arrogante e ‘nem aí’. O problema é que essas pessoas faziam parte da equipe que trabalhava no colégio que o Sávio estudaria, e definitivamente ele não estava tão disposto a ir de encontro àquelas pessoas. Ao menos não até ele sentir-se totalmente seguro de si naquele país.

É então que ele, aos poucos, começava a se adaptar as possibilidades oferecidas pela cidade. Conhece pessoas de diversos países (inclusive brasileiros), culturas e religiões, e começa uma aventura no melhor estilo ‘Inglaterra, eu aceito’. E é aceitando tudo isso que ele começa a frequentar festinhas, conhece os pontos mais curiosos e visitados, e se entrega a uma vida nova num período de poucos meses. As saudades do Brasil estavam lá, mas a mera possibilidade de se deixar permitir naquela terra onde o imprevisível ditava o momento seguinte tornou Deixe a Inglaterra tremer uma experiência tão prazerosa para o leitor, quanto foi para o personagem vivo desta história.

Eu gostei logo de cara do Sávio (é difícil resenhar um livro ‘autobiográfico’ porque você não sabe como se referir ao ‘personagem principal’ do enredo), talvez por ter havido uma identificação repentina com ele (muito embora, eu no seu lugar, teria me jogado literalmente de cabeça desde o começo). Os medos, as incertezas e o fascínio de estar num lugar que era ao mesmo tempo desconhecido, mas tão intimo e intimidador. Tudo estava lá e nos foi relato da maneira mais real e crível; por isso ouso dizer que quase todo leitor se identificaria, tanto com sua narrativa, quanto com as situações reais relatadas.

O livro está bem longe de trazer aquela belo retrato de uma Londres glamorosa e plastificada. O autor deixa de lado toda e qualquer artificialidade e nos escancara uma Inglaterra de pessoas e hábitos comuns, mesmo que às vezes exóticos. Os pubs, clubs e um bairro atolado em neve servem de cenário para vivenciar experiências transformadoras. E olha, isso não tira a beleza que a menção do nome do país europeu pode nos trazer. Ao contrário, reforça o desejo de quem já tem vontade de conhecer, e desperta o desejo daqueles que ainda não têm.
“De início, não me senti muito à vontade; parecia um pouco como intruso no país. Achava-se na obrigação de me sentir realizado pela oportunidade de viajar, mas a sensação de deslocamento era mais forte”. Pág.: 67
Quando paro para pensar no que este livro me trouxe de novo, a primeira coisa que me vem é: eu preciso viajar. Sair do casulo e se deixar viver longe de tudo aquilo que me parece agradável e confortável; conhecer coisas e pessoas novas. Viver. Vejo, através e principalmente pelo fim do livro, que de certa forma, em todos os lugares existe um lugar para você. E mais: é impossível não concretizar aquela coisa clichê que diz que sempre deixamos um pedaço da gente e levamos um pedaço de alguém numa despedida. O Sávio soube bem o que foi isso quando embarcou de volta para o Brasil.

E passar duas tardes na companhia dele num país como a Inglaterra, não só me permitiu olhar o país com outros olhos, mas me despertou certo sentimento de patriotismo, de saudades do Brasil e orgulho de ser brasileiro. Ah, eu ficava feliz demais toda vez que esse sentimento de descontruir uma imagem errônea que às vezes os ‘gringos’ costumam nutrir por nós, surgia no Sávio. Acho que foram as partes mais legais do livro.

O enredo não nos leva a um clímax altamente imprevisível por ser bastante óbvio que o destino final será novamente o Brasil, mas posso garantir que o que importa mesmo é ler nas próprias palavras dele as experiências vivenciadas lá, do outro lado do oceano.

E o que afinal a Inglaterra o ensinou?! Ah, arruma a mala, coloca o fone, e deixe a Inglaterra tremer.

Boa Leitura!

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2 comentários:

  1. Ótima resenha, sempre tive vontade de ler o livro e agora estou mais curiosa.
    Amo a capa do livro e o nome e ainda pretendo fazer um Intercambio para Inglaterra hahaha

    Beijos
    Comente ;)
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/2014/02/ler-romances-torna-voce-uma-pessoa.html

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