Título: O Homem que venceu Hitler
Autor: Marcio Pitliuk
Editora: Gutenberg
N° de páginas: 252
Sinopse: Durante a II Guerra Mundial, um judeu de 13 anos, Chaim, é obrigado a separar-se dos pais que vão para o Gueto de Cracóvia. Depois de um ano, perseguido e exausto, enconde-se num porão onde é encontrado por uma bela polonesa, Anna, viúva de 30 anos. Ela leva o jovem para seu apartamento, o esconde, alimenta, cuida dele e depois de um tempo acabam se envolvendo. Após alguns meses morando juntos, Chaim, que precisa viver escondido dos vizinhos e amigos de Anna, acha que ela vai denunciá-lo às autoridades alemãs em troca de um quilo de manteiga e um quilo de açúcar (o que os alemães pagavam por cada judeu entregue). Com medo de ser denunciado aos nazistas, Chaim foge e chega ao Brasil. É a partir daí que se desenrola a trama de O homem que venceu Hitler, de Marcio Pitliuk, publicitário e especialista no Holocausto. Com uma narrativa não-linear, feita em flashbacks, e com um surpreendente final, este livro mistura ódio, amor, preconceito, medo, tensão e dor para transmitir ao leitor que tudo na vida tem duas mãos, dois pontos de vista, mas, mais que isso, que o preconceito e a intolerância que geraram o ódio, a guerra e o holocausto, e que ainda alimentam muitas pessoas, devem ser combatidos.
Nota Pessoal:
‘O Homem que venceu Hitler’ é um romance altamente sensível e de uma singularidade ímpar. Tratando de um tema delicado – nazismo, segundo guerra, perseguição aos judeus – somos transportados para um Polônia a princípio acolhedora, final dos anos 30, início dos anos 40. A atmosfera da pequena cidade de Cracóvia não poderia ser melhor e mais convidativa.
Conhecemos a família Kramer, composta basicamente por pai, mãe, filha e filho. E é justamente esse filho que atende pelo nome de Chaim, que a família judia deposita todas as suas esperanças, quando o país é invadido pelas tropas nazistas, que tinham pretensão de dominar o país e derrotar todos os judeus.
Paralelo a isso, somos levados a cidade de São Paulo, mais precisamente o ano de 2004. David tem uma família, é judeu, e o único filho de Chaim, o homem que ‘supostamente’ driblou o miserável destino dos judeus da época e venceu Hitler.
David quer descobrir todo o passado – verdadeiro – do seu pai e de sua família. Mesmo relutante em descobrir, e quase que sem o apoio se sua família, esse judeu enfrenta seus maiores e mais temidos medos e parte para Cracóvia em busca de respostas para suprir as necessidades que o perturbam, sobre um dos episódios mais cruéis que a humanidade já vivenciou: O Holocausto.
O livro quase que principalmente, tem foco na história de Chaim e toda a sua luta durante a perseguição nazista. Então, podemos encarar a parte de David como algo secundário e complementar a história real proposta, mas de fundamental importância ao longo de todo o livro.
Chaim vê sua família sendo destruída, em uma época onde o judeu – e friso principalmente ‘o judeu’ porque é a perseguição dos mesmos, o foco principal abordado – era submetido a todos os tipos de humilhação. A princípio sua casa, seus bens, e depois o pior: os campos de concentração, as câmaras de gás, e o gueto. Mas existe uma saída para Chaim. Mesmo jovem e ainda um mero aprendiz sobre a vida, seu pai acaba arrumando uma identidade falsa para o garoto, e ele começa a viver quase que normalmente – devemos considerar o ‘normal’ naquela época – sem grandes alardes.
Só que recomeçar a vida em uma atmosfera devastada como estava a Polônia, principalmente porque Chaim era apenas um garoto, seria algo mais difícil do que você possa imaginar.
Mesmo passando por um mero polonês, Chaim acaba que entrando em uma das maiores ciladas que a vida poderia lhe preparar. Anna é um mulher viúva que perdeu o marido na guerra. Encontra Chaim escondido no galpão do seu prédio e leva o jovem para casa, mesmo sabendo que ele é judeu e arriscando todos os riscos. Começa aí um verdadeiro jogo de sedução, que por vezes me deixou enojado, e me levou a refletir sobre como a vida pode ser imprevisível e cruel.
Ler ‘O Homem que venceu Hitler’ foi como vivenciar todos os acontecimentos vivenciados pelo personagem, e de certa forma angustiar-se e revoltar-se com o que foi o movimento nazista. Mais que isso, o livro é o retrato perfeito de uma época onde o mundo pôde sentir os impactos de uma grande guerra, que devastou países e levou a morte milhares de judeus.
“Na noite anterior, descobriram que a vida é uma rua de mão dupla, como dizia o rabino. Ambos podiam estar certos ou podiam estar errados...” Pág: 247
Foi um livro que eu pude sentir verdadeiramente as angústias de todos os judeus – e de cada um em especial. Chaim é um personagem perfeitamente construído, com todos os traumas, medos e inseguranças de uma criança – ele tinha apenas treze anos quando os nazistas invadiram o país – que perdeu tudo e não vê mais nenhuma saída para nada.
Mas o que mais gostei foi a personalidade forte do garoto, e principalmente sua sede de viver e seu imenso medo de morrer. Mesmo que as vezes a morte pudesse ser encarada como o fim de todo o sofrimento – como muitos pensam – o próprio Chaim chegou a ficar tentado a acolher esse ‘dádiva’ que era entregar-se a morte. Porém, ele era movido pelo desejo e pela promessa que havia feito ao pai: viver e contar ao mundo tudo, absolutamente tudo que os nazistas fizeram aos judeus.
Ficção e realidade mesclam-se ao longo de toda a leitura, mesmo que se tratando de uma história ficcional –eu não consigo considerar um livro de ficção quando o assunto abordado é Segunda Guerra, por todas as semelhanças existentes ao longo da leitura – você consegue enxergar uma realidade pela qual o mundo passou durante os tempos sombrio que foi o nazismo e essa grande guerra. Melhor dizendo, mesmo que algum escritor se proponha a escrever somente uma obra ficcional tendo o assunto como pano de fundo, é impossível evitar semelhanças com a realidade, porque você sabe que de uma forma ou de outra aquilo possa realmente ter acontecido com alguém durante esse período.
Talvez, o único ponto negativo que a obra apresenta, é o fato do autor cortar a cena no seu ápice. Ele escreve algo realmente emocionante, mas muitas vezes não impõem o clímax que nos dá a sensação de dever cumprido. Muitos acham ruim, mas isso não atrapalha completamente o desenvolvimento da história. Me incomodou um pouco, mas nada que me deixasse decepcionado.
É uma obra que passa verdade, e nos mostra que por mais dura que seja essa verdade, não podemos simplesmente esqueça-la e fingir que nada acontecer.
Faço das palavras de Agnelo Pacheco as minhas: “Sou a favor de que se lancem cada vez mais filmes e livros narrando as atrocidades do nazismo, para que o mundo nunca mais ouse repetir um movimento como esse e para que o preconceito saia de nossas vidas.”
BOA LEITURA!!!
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