domingo, 17 de maio de 2015

[Resenha] Dois garotos se beijando - David Levithan

Skoob
Título: Dois garotos se beijando.
Título original: Two boys kissing.
Autor: David Levithan.
Editora: Galera Record.
Nº de páginas: 224.

Sinopse: Dois Garotos se Beijando - Baseado em fatos reais e em parte narrado por uma geração que morreu em decorrência da Aids, o livro segue os passos de Harry e Craig, dois jovens de 17 anos que estão prestes a participar de um desafio: 32 horas se beijando para figurar no Livro dos Recordes. Enquanto tentam cumprir sua meta — e quebrar alguns tabus —, os dois chamam a atenção de outros jovens que também precisam lidar com questões universais como amor, identidade e a sensação de pertencer.

Nota Pessoal:
Dois garotos se beijando é muito mais do que dois garotos, é muito mais do que um beijo, é muito mais do que um beijo que une dois garotos e dita uma história. David Levithan não apenas imprime uma história magistral e significativa, como escancara as várias realidades de adolescentes gays que se veem confrontados pelas inúmeras convencionalidades sociais. O autor não se propõe somente a escrever uma boa história - mesmo fazendo isso de maneira ímpar - mas uma boa história que permaneça com o leitor mesmo muito tempo depois da última página virada.
Vários são os bons adjetivos que eu poderia usar para definir esse livro, mas seriam deliberadamente insuficientes. Dois garotos se beijando é para ser lido, contemplado, observado. É para servir de inspiração, alerta e principalmente, para ser sentido.
Levithan nos conduz às histórias de sete adolescentes gays, em diferentes situações e unidos pelo título do livro. Embora os dois garotos se beijando darem nome a obra e "unir" os sete personagens principais, não é sobre isso que o livro trata. Ou pelo menos, não é a parte mais significativa. Os pormenores de cada história, de cada personagem, de cada situação, é o que realmente importa.
Não posso negar que foram eles, os pormeores, que me fizeram chegar à última página com um sorriso e várias lágrimas. O propósito principal de Craig e Harry é realmente o que parece mover a narrativa, mas são esses dois, junto com Cooper, Avery, Ryan, Peter, Neil e Tariq, que justificam a grandiosidade da obra. Seria difícil traçar o perfil de cada um desses personagens aqui, mas o que vocês devem saber é que eles são adolescentes, vivem situações complicadas - sejam pelo relacionamento com a família, com os amigos, sociedade, etc - e vivem como adolescentes vivem (ou a maioria): intensamente.
Os personagens são bastante característicos. É uma coisa que eu percebi em todos os romances do Levithan que li (este é o quarto). O autor transparece seu conhecimento do universo jovem (dúvidas, medos, inseguranças, alegrias, desejos) nos seus personagens de maneira singular e única. É simplesmente IMPOSSÍVEL não gostar dos oito personagens que protagonizam as ações de Dois garotos se beijando.
Quanto à narrativa, acho que estou trilhando um caminho que me deixa sob suspeita. Sim, eu assumo o quanto a prosa do Levithan é incrível - imagine algo bem incrível! - e o quanto eu gosto da maneira como ele remexe as palavras e cria um texto delicioso. No caso de Dois garotos se beijando eu tenho mais uma coisa para falar. Pra mim é aqui onde o Levithn alcançou o ápice de sua narrativa - e estou dizendo isso com a esperança de me retratar na minha próxima leitura do autor. Ele mistura prosa com poesia, criando uma linha bastante tênue entre uma coisa e outra.
Outra característica narrativa é que o livro não é dividido em capítulos, mas numa sucessão de parágrafos, o que pode parecer cansativo. Acredite, não é.
O narrador - ou melhor dizendo, narradores - são seres onipresentes e esta é a maior particularidade da obra. Numa voz autêntica, temos a história narrada por um grupo de homossexuais que antecederam a geração do livro e morreram em decorrência da aids. É brilhante. A ideia do Levithan de enxergar a história por essa perspectiva é simplesmente genial.
O que eu poderia dizer agora, para finalizar essa resenha de maneira tão singela quanto o Levithan terminou  livro? Talvez eu não saiba. Mas se tem uma coisa que eu sei é que Dois garotos se beijando merece mais do que apenas ser lido.
É sobre beijos. E sobe garotos que se beijam. Mas não apenas. É sobre a vida. E sobre como a vida merece ser vivida, vista e contemplada. Dois garotos se beijando é a personificação de um grito pela liberdade de apenas ser livre.
Boa Leitura!
P.S.: eu só preciso dizer que eu acho essa capa incível!