segunda-feira, 19 de agosto de 2013

[Resenha] O Oceano no Fim do Caminho - Neil Gaiman



Título: O Oceano no fim do caminho.

Título original: The Ocean at the End of the Lane.

Autor: Neil Gaiman.

Editora: Intrínseca.

Nº de páginas: 207

Sinopse: Foi há quarenta anos, agora ele lembra muito bem. Quando os tempos ficaram difíceis e os pais decidiram que o quarto do alto da escada, que antes era dele, passaria a receber hóspedes. Ele só tinha sete anos. Um dos inquilinos foi o minerador de opala. O homem que certa noite roubou o carro da família e, ali dentro, parado num caminho deserto, cometeu suicídio. O homem cujo ato desesperado despertou forças que jamais deveriam ter sido perturbadas. Forças que não são deste mundo. Um horror primordial, sem controle, que foi libertado e passou a tomar os sonhos e a realidade das pessoas, inclusive os do menino.
Ele sabia que os adultos não conseguiriam — e não deveriam — compreender os eventos que se desdobravam tão perto de casa. Sua família, ingenuamente envolvida e usada na batalha, estava em perigo, e somente o menino era capaz de perceber isso. A responsabilidade inescapável de defender seus entes queridos fez com que ele recorresse à única salvação possível: as três mulheres que moravam no fim do caminho. O lugar onde ele viu seu primeiro oceano.



Nota Pessoal:

Um oceano de melancolia; um livro perfeitamente arquitetado. ‘O oceano no fim do caminho’ é uma história sombria e fantasiosa, de como a infância é uma fase onde as experiências vivenciadas, podem ou não serem reais. Afinal, o que é real na perspectiva de uma criança? O livro é um convite para embarcar para um lugar distante, tendo como amigo um garoto sem nome, e levando na mala experiências passadas em uma época onde a linha tênue entre o real e o irreal, é o único obstáculo a ser enfrentado.

“Existem monstros de todos os formatos e tamanhos. Alguns deles são coisas de que as pessoas têm medo. Alguns são coisas que se parecem com outras das quais as pessoas costumavam ter medo muito tempo atrás. Algumas vezes os monstros são coisas das quais as pessoas deveriam ter medo, mas não têm.” Pág: 129



A vida, coincidentemente ou não, traz de volta à pequena cidade, um homem enigmático. Convidado pela consciência, a embarcar nas aventuras que viveu quando criança naquele lugar, vamos conhecer a história do garoto sem nome.

Foi em um dia qualquer – mais um entre os milhares que ele já vivera – que a vida do garoto mudaria para sempre. O carro do seu pai é roubado, e quando o encontram – lá no finzinho do caminho – a descoberta de que um homem cometera suicídio, causa uma grande perturbação na mente do garoto. Então, uma garota, convida-o a adentrar em sua casa, e oferece ajuda, tirando-o daquele cenário nada convidativo para uma criança.

Lettie passa a ser sua única amiga. Aquele fático dia, ao menos, deu ao garoto a oportunidade de encontrar alguém com quem pudesse compartilhar seus sonhos e suas brincadeiras de criança. O que ele não esperava, era que sua vida se transformasse naquele turbilhão de acontecimentos extraordinários. A imaginação do garoto – apurada, como a de toda criança – é levada a crer que os seus monstros ganharam vida. Um bosque num dia de sol... Um ser misterioso e que voa... Seria isso real? Ou pura e irracional imaginação?

Enquanto tem que enfrentar uma série de coisas que ao mesmo tempo, o leva ao questionamento da realidade, o garoto se vê obrigado a ter que conviver com uma babá nem um pouco humana – quem era aquele mostro disfarçado de babá? Ele queria matar o garoto sem nome? – com uma irmã birrenta, e com pais que não acreditam em quase nada que ele diz.

Sua vida corre perigo. Lettie, junto com sua avó e sua mãe, chegam a conclusão de que expor o garoto aquele mundo mágico, com seres perigosos e cenários que beiram a irrealidade, foi um tremendo erro. Mas não há como voltar atrás. Agora, ele carrega encravado em sua própria pele, as consequências daquele erro. E percebe que está em perigo quando aquela história começa a ganhar proporções inimagináveis; o único problema: tudo aquilo era realmente real. Não era?

“Não tenho saudade da infância, mas sinto falta da forma como eu encontrava prazer nas coisas pequenas, mesmo quando coisas maiores desmoronavam.” Pág:169

O livro é simplesmente fantástico. Quando terminei a leitura, a única coisa que consegui pensar foi: Meu Deus, o que eu fiz da minha vida até hoje, que ainda não tinha lido nada do Gaiman! Foi uma verdadeira surpresa. Mesmo tendo vários livros do autor, ainda não tinha me dado à oportunidade de viver a experiência que a maioria dos leitores tem quando o leem: o sentimento de dever cumprido; a emoção da história que nos faz ter certeza de que ler é algo realmente mágico. 

A história de ‘O oceano no fim do caminho’ é diferente de toda e qualquer coisa que eu imaginei. Na verdade, não sabia o que esperar do Gaiman, mas sabia que era algo bom. É um livro melancólico, questionador, fantasioso e sombrio. A singularidade da obra e o raro dom de fantasiar e criar uma linha tênue entre o que é ou não real, fez do livro, um dos melhores que já tive a oportunidade de ler.

É quase impossível não ser remetido a sua própria infância; Para você, o que era real? Monstros existiam? Ou tudo era coisa da sua imaginação? É isso que fica subentendido ao longo de toda obra: – ou ao menos, foi o que eu, particularmente, pude perceber – até onde a imaginação de uma criança pode criar e fantasiar alguma coisa?
O autor questiona e sabe brincar com as emoções do leitor; ele o convida a questionar e pensar o que pode ou não ter acontecido. Aquele buraquinho no pé do garoto era mesmo um portal para um mundo paralelo ao nosso?

O oceano: um pequeno laguinho nos fundos da casa. O laguinho que a Lettie sempre o quis fazer acreditar ser um oceano. O laguinho/oceano que o tirou de seu maior perigo; que o salvou de seus medos e monstros... Que o levou a viver coisas que pareciam impossíveis. Como todos nós gostaríamos e seríamos tentados a dar um mergulho naquela pequena imensidão de águas... E possibilidades... E verdades... E tantas coisas impressionantemente mágicas.

O garoto; a garota Lettie, junto com sua mãe e sua avó; os pais e a irmã – mesmo que birrenta – do garoto; todos são personagens encantadores, uns mais, outros menos; fato é que foi quase impossível não se afeiçoar ao modo particular com o qual o Gaiman compôs seus personagens.
O mais incrível é você achar que está entendo tudo que está escrito, quando na verdade, nem o garoto sem nome sabia - e não, você não entendia. É como eu disse: tudo é fantasioso e sombrio demais... Questionador demais... Irreal demais. 

E como tudo isso termina? Com um final que pode deixar muitos leitores frustrados por não receberem as respostas que esperavam; ou pode deixa-los satisfeitos – como eu – por saber, ou achar, que tudo aconteceu exatamente do jeito que deveria; mesmo sabendo que o autor poderia responder as perguntas que ele próprio nos leva a fazer, ele deixou que nós, leitores, pensássemos e tivéssemos nossa própria percepção do que era real e do que era imaginação e ficção em toda essa história, que por um momento faz você achar que sabe tudo, e na verdade, não sabe nem a metade do ‘tudo’.

“Eu não sentia mais frio, sabia tudo, não estava mais com fome e o mundo grande e complicado era simples, compreensível e fácil de desvendar. Eu ficaria aqui até o fim dos tempos, num oceano que era o universo que era a alma de tudo o que importava. Eu ficaria aqui para sempre.” Pág:165

O livro é assombrosamente encantador; enigmaticamente perfeito; magistralmente escrito. Neil Gaiman é um dos melhores contadores de história que existe.
Boa Leitura!



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2 comentários:

  1. Oi Ronaldo :)

    Cara pelo jeito esse livro é maravilhoso mesmo em hahahha, preciso ler urgentemente ainda mais que tá baratinho, abraços !!

    http://euvivolendo.blogspot.com.br/ ( comenta lá :D )

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  2. Ronaldo,

    Amei sua resenha, nunca li nada desse autor, mas amei a forma como vc falou do livro, acho que agora tenho de adicionar a minha lista né kkkk.

    Faby - Blog Adro Romances de Aracaju

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